sexta-feira, 26 de junho de 2009

Homenagem ao Mestre Vitalino

Das mãos sujas de massapê, uma cultura que fez o mundo admirar
Esculturas do barro exibem a simplicidade da vida
Obras modeladas, inigualáveis e apaixonantes
São encantos merecidos de um artista popular
Sua arte, reconhecida universalmente, é o orgulho de nossa gente.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Isso é só mais um textinho bonito (ou não)




Diploma. Para quê diploma, se ele não me dá bola? Assim que comecei a escrever esse texto, pensei nessa música de Martinho da Vila para expressar um pouco o que sinto. Depois que o STF suspendeu o uso do papel para ingressar na profissão de jornalista, venho incansadamente pensando sobre o assunto. Confesso que fiquei confusa e divergi opiniões. Mas, no fundo, acredito que a suspensão do diploma não vá mudar muita coisa. Para falar a verdade, não sou contra e nem a favor.

As empresas continuarão a dar importância aos formados. Sabe por quê? Porque não entendo como uma pessoa pode exercer qualquer ocupação sem receber o preparo devido. Fechei os olhos e me imaginei chegando numa redação (ou qualquer outra local de trabalho) sem conhecimento algum. Seria o caos! A visão do inferno. Mesmo possuindo grandes profissionais ao meu lado, me enchendo de chicotadas e gritos perversos, tenho certeza que não seria o mesmo, sem o conhecimento teórico (e prático) adquirido na faculdade. *Não quero aqui discutir sobre qualidade. Claro que todos nós sabemos da precariedade dos equipamentos, das salas de aula, etc.

Quero dizer que o jornalismo é muito mais do que se pensam. É muito mais do que ter opiniões sobre determinados assuntos e, por isso, terem a pretensão de escrever artigos, serem comentaristas. Estou falando de um caráter mais sério conferido ao jornalismo, que vai além do pretendido para ele. De onde eu iria partir sem noções de ética, de prioridade de informações, do que eu devo falar, do que eu devo fazer? Iria seguir apenas com o conhecimento repassado? E o meu caráter, cadê? O meu jeito, a minha forma de escrever, de informar, a minha opinião a respeito dos assuntos, do que é preciso e, até mesmo, a formação de um olhar crítico em relação às coisas, que pode muitas vezes ajudar e aprimorar o trabalho. Sem falar que a faculdade era para ser considerada algo precioso, se levarmos em consideração a educação do nosso país. É a partir do diploma que se valoriza aqueles que optaram pelo estudo.

Previsões e indignação são bem-vindas. O assunto é realmente polêmico. Quem for jornalista e não teve uma vontadezinha sequer de expressar sua opinião acerca da obrigatoriedade (ou não), que atire a primeira pedra. Adiplomados, uni - vós!

terça-feira, 9 de junho de 2009

Vós embriagais



Nada melhor como se dispersar dos problemas do dia-a-dia com boas doses de bebida alcoólica. Não importa qual. Pode ser uma vodka, um uísque (particularmente, detesto), uma cervejinha, uma lapada de cana e até mesmo um conhaque de alcatrão. Esse último eu provei recentemente. É angustiante, mas é bom.

O importante é que você esteja bem servido para se livrar daquele pensamento ou problema que tanto lhe atormenta o juízo. O fato é que, nem sempre, isso ocorre da melhor maneira. Não quando você tem uma prova altamente subjetiva para fazer em pleno sábado de manhã. Isso acaba com qualquer pessoa. Saí de casa justamente com o intuito de voltar cedo, com boa aparência! (isso significa dizer: não muito alcoolizada). O objetivo era ver meus ex-colegas de trabalho tirarem de seus instrumentos musicais um bom samba.

Em companhia de um ilustre amigo, iniciei minha noite com doses de Orloff. Foram três, ao todo. Por causa da minha mania compulsiva de mudar de bar, acabamos migrando para outro recinto. As três dosezinhas já tinham começado a fazer efeito no meu sangue, mas, nada demais.

No novo local tocava um blues. Muito agradável por sinal. Convencida de estar sóbria, pedi uma garrafa de cerveja. O som de The Doors se misturava com minhas goladas impulsivas. Pedi mais outra… e outra. Quando vi, já estava no balcão do bar. Pobre destino o meu. Eu e minha companhia naquela noite conversávamos sobre tudo. Diálogos aprazíveis, que se confundiam com as notas de um animal noturno, misterioso e maligno, caso se alimentasse de carne humana. E, costumeiramente, ele se alimentava. Vodka pura no gargalo, depois uma briga de galo.

Passava das 2h, quando aceitei terminar a noite com uma lapada de cana. O meu amigo, maravilhoso que é, teve a brilhante idéia de, antes de virarmos, anunciássemos o nome daquele (daquela ou daquilo) que nos atormentava. Era para falar o nome em voz alta e, depois, acalmar a garganta com a cachaça. E, claro, retardar o arrependimento. Eu não queria, mas eu falei: “Fulano!” (vale salientar que Fulano é apenas um codinome).

Meu deus, por que eu disse isso? Meu amigo parou por um instante. Deve ter achado um absurdo a minha atitude. Conforme o combinado, ele também externou o nome que tanto o incomodava - “Fulana!”, disse ele, com a voz já um pouco incompreensiva. Pareceu um ritual. Fim do copo, o resultado: começo de uma embriaguez. Como eu havia dito no início, eu iria fazer teste no fim da manhã. A bebida resolve tudo, não é? Nesse caso, não. Preocupei-me, juro!

Terminamos de assistir o show. Uma delícia a melodia. Porém minha cabeça começava a pesar e dar sinais. Algo estava errado. A música encerrou, o mestre chamou, mas eu não fui! Talvez acalmaria, relaxaria. Infelizmente, eu não podia. Para casa? Avante!

Pegamos um táxi. O balanço que o carro fazia ia me causando certo enjôo. Buracos desgraçados! Além de acabarem com o carro, acabavam com o meu juízo. Posso dizer que tive péssimas sensações. Um gosto de vômito tomava conta do meu esôfago. E a cara do motorista não era muito interessante. De instante em instante, ele olhava para mim através do retrovisor. Dava-me calafrios. Não iguais aos que o homem da noite me proporcionava. Os calafrios do taxista eram frios demais, desempolgantes, broxantes. Desci do carro. Por mim, descreveria até o modelo do possante, mas o teor de álcool contido em minhas veias não permitia. O caos instaurado. Nada mais podia fazer.

As escadas do meu prédio pareciam rolantes por alguns momentos. Incorporei uma lagartixa, passei super-bonde nas mãos e me agarrei na parede. Enfim, consegui chegar até a porta e abri-la. Até que eu não estava tão ruim assim. Tinha flashes efêmeros de sã consciência.

O êmese já estava por vir e, antes que melasse toda a casa, corri para o banheiro. Aquele conteúdo gástrico saia pela minha boca. Um gosto de cana misturado com tudo aquilo que eu havia comido durante o dia. Minha cara era de barraca. Encostei-me à parede por alguns minutos. Adormeci. A parede dura se assemelhou ao meu colchão D33. Esplendido!. Vale salientar, também aterrorizante.

Mesmo com tudo isso, eu acordei. Levantei-me, ainda cambaleante, escovei os dentes, troquei a vestimenta e cair na cama. Dessa vez foi na cama! Mas não durei muito tempo com a cabeça colada ao travesseiro. Bateu novamente aquela sensação de que algo estava para sair de mim. O meu fígado estava permeável. Só a bile teve vez. Um conteúdo de cor amarelo-esverdeado. Novamente, me levantei. Dormi após.

Não sei se eu sonhei. Eu também não tinha a menor condição de saber.

Às 9h45 meu despertador tocara. Uma música irritante no meu pé do ouvido. Deu-me uma vontade expressiva de jogar o celular, janela a baixo. Felizmente, não fiz isso.
Acordei com uma baita dor de cabeça. Meus músculos da face se contraíam. O enjôo me indicava o que estava por vir. Eu só pensava na minha prova.

Minha mãe me olhou com um cara de reprovação. Perguntou logo o que se passava. Eu, filha boa que sou, disse que tinha ingerido uma pequena quantidade de bebida alcoólica. “Apenas três doses, mãe.” Foi a minha frase feita. Ela ficou especulando o que poderia ter acontecido. Eu apenas curtia a minha ressaca e pensava como eu iria fazer a prova naquele estado deplorável. Com um coração tão bom que tem, minha genitora me deu uma carona até a faculdade, temendo maiores constrangimentos, caso eu pegasse um ônibus. Ainda bem.

Antes de ir até a sala de aula, fiz questão de tomar uma coca-cola. Não inventaram nada melhor para curar a ressaca. O enjôo não passava. Eu tremia. As minhas glândulas sudoríparas soltavam uma substância alcoólica pela minha pele. Suava, enjoava, preocupada. Peguei o elevador que me teletransportou até a sala de aula. O operador era um gay, por demais assanhado. Começou a reclamar do colega de trabalho por ter o deixado mofando naquele cubículo. Fiquei com pena do pobre. “Esse safado, vai me pagar. Sai para beber água e me deixa aqui. Ele vai ver só”, dizia ele, com certa delicadeza, enquanto eu respirava fundo para não vomitar ali mesmo. Eu começava, então, a ter leves impressões de que o meu teste periódico escolar iria ser um fiasco. Não era pra menos.

Quando entrei na sala, o professor nem havia chegado ainda. Fiquei sentada na cadeira, olhando para a cara dos meus colegas. Alguns estudavam, outros ensinavam e uma pequena parcela não entendia o que se passava. Pelo menos eu sabia que iria fazer prova, tinha gente que nem isso. Um camarada chegou de mão dada com a namorada. Pensei comigo: “O amor não é lindo, o amor é cara de pau”. O problema é que o coitado não sabia que naquele dia era a maldita prova. Eu sabia, pelo menos. Esse nome assusta quase todos os estudantes. Digo quase, pois não me assusta mais. Não que eu seja a super inteligente, mas é que, simplesmente, eu a ignoro. Minha ressaca estava aí como prova da minha falta de preocupação.

Até que em enfim, o professor chegou, para alegria da galera, e não da minha. Bufei umas três vezes. Respirei fundo, alonguei os braços e dei duas quebradinhas no pescoço, para um lado e para o outro. Fazia de tudo para que meu cerebelo captasse a melhor mensagem possível a respeito do meu estado físico e emocional. A prova caiu como uma luva em minhas mãos. Chega estava quentinha. Olhei para as questões atentamente. Meus pulmões trabalhavam a todo gás, tentando levar oxigênio para o meu cérebro e fazendo com que eu parasse de me sentir mal. A priori, eu estava muito mal. Quanta sem vergonhice.

Mesmo assim, eu estava disposta a fazer todas as questões. Estavam fáceis. Eu saberia responder todas elas, conscientemente. Cheguei a responder um parágrafo da segunda pergunta. Depois disso, era impossível me manter naquele ambiente. O sol do meio-dia disparava raios solares na minha face, que me irritavam profundamente. Feria nos olhos. Ou eu saia ou eu vomitava. A escolha só poderia ser minha. Eu escolhi sair, claro. Levantei-me, fui até o professor e disse: “Mestre, infelizmente, não tenho condições de fazer a sua prova. Estou passando mal.” Ele, fazendo jus ao cargo de professor de educação cidadã, fez de tudo para que eu permanecesse na sala. “Querida, fique embaixo do ventilador. Vá lá fora e volte. Tome uma água”. Eu, já ofegante: “Professor, não tenho a menor condição de ficar aqui. Não quero passar constrangimentos. Entenda”. Ainda insistente, ele falou: “Tudo bem, mas saiba que você corre o risco de fazer prova final”. Corro o risco? É claro que eu estava ciente de que faria prova final, caso eu largasse tudo ali mesmo. Sem dúvida alguma da minha decisão, eu proclamei: “Professor, eu me responsabilizo pelos meus atos. Pode deixar.” E sai em disparada para o banheiro. Forcei o vômito, enfiando meu dedo na goela. Nada. Nenhum sinalzinho se quer. Fui para o térreo e avistei alguns colegas. Andei para um lado e para o outro, procurando uma saída para aquele mal estar. Até que, opa! Acho que agora sai. Subi correndo ao banheiro novamente. Quando eu menos esperava, estava com a cara enfiada na bacia sanitária. Nesse momento, não sabia se o enjôo vinha de dentro ou de fora. O fedor era insuportável. Aquele odor de urina me sufocava a ponto de eu não mais querer expelir o que tinha no meu estômago. Fui embora daquele lugar nojento, sem ter cumprido o meu objetivo.

Fiquei sentada no banco do corredor. Eu não sabia o que fazer para acabar com aquele mal estar generalizado provocado pelo excesso de bebida alcoólica. Na boca, um gosto amargo. E as mãos trêmulas. Eu não queria fazer mais nada, a não ser deixar o tempo passar. Olhei para as paredes, que traziam grandes placas de conclusão de curso. Cada uma mais feia do que a outra. São execráveis. Por que não contratam um designer? Talvez resolvesse o problema, ou não?

Apenas uma me chamou bastante atenção. Na foto, os formandos, escovados e bem passados, pousavam em frente ao Palácio do Governador. Aquele lugar, pensei, me era bastante familiar. Passei alguns segundos olhando atentamente para a fotografia, sorrindo. Dei gargalhadas compulsivas, assim como fazem personagens de desenho animado. Eu ria incontrolavelmente. Sozinha, eu caí. As escadarias do Palácio do Governador já havia sido palco da minha embriaguez.

* Essa crônica foi baseada em relatos e um pouco de ficção.