quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Parte III – A conversa ainda perdura.

A noite, no msn, Anita e Gilberto enfim conversaram. O nick dele era direto e prepotente: Giba – todo começo é angustiante. Já o dela era apenas Anita, com a simplicidade de uma garota. O diálogo estava indo bem, mas Gilberto acabava estragando tudo por causa de suas flertadas sem graça.

- “Ah, sou fã de Ozzy Osbourne”, comentou Anita.
- “É, eu detesto, mas você é linda mesmo assim.”
- “Quanta gentileza”, disse ela, respirando fundo.
- “Ei, vamos sair?”
- “Vou aqui tomar água...”

Anita se saiu, queria mesmo despistar o “mela cueca”. Gilberto ficou lá à espera da amada, firme e forte. Ele estava de olhos perdidos na tela do computador e suava de tanta ansiedade. Era uma paixão que nem ele mesmo sabia de onde vinha. Sempre achava esses sentimentos uma grande besteira.

- “Iai, decidiu?”
- “Eu estou de TPM! Você não se incomoda?”
- “Não tem problema, eu adoro mulheres de TPM.”
- “Sabe qual é a diferença entre uma mulher de TPM e um pitibull?”
- “Não”
- “O batom”

Giba caiu na gargalhada.

- “Olha, até com TPM você é sensacional. Desculpe, mas vai ser muito difícil ter raiva de você.”
- “Você não me conhece pra tá dizendo isso. Vai se arrepender.”
- “Eu quero tentar me arrepender.”

“E se eu te mandar tomar no cu?”, pensou ela. Giba não se tocava, parecia um retardado. Sua paixão ia além do estado natural das coisas e até da sua própria personalidade.
Anita já não aguentava mais as piadinhas idiotas. Decidiu, então, fazer um sacrifício. Ela optou por falar na cara dele que ele era um otário, tinha um bigode de nazista nojento e um cabelo de fazer doer o estômago. O sistema nervoso já havia trabalho bastante. Anita gostava mesmo era de homens peludos.

Parte IV – Abre os olhos.

Cinco horas da tarde. Gilberto estava de pé, esperando em frente à pracinha que ele havia combinado com Anita. Ela chegou apressada, anunciando que não podia passar muito tempo por ali, pois precisava voltar para casa logo.

- “Mas Anita, é a primeira vez que a gente se encontra.”
- “Olha, não discute.”
- “Sua TPM não vai me intimidar.”
- “Eu tenho uma coisa pra te dizer.”
- “É mesmo? Você tem namorado?”
- “Quem dera...seria tudo muito mais fácil.”
- “Fala logo.”
- “Nós somos diferentes.”
- “Diferentes? Não, não somos. A gente até gosta das mesmas bandas, você viu!”
- “Não é disso que estou falando.”

Gilberto olhou para Anita desconfiado.

- “Você é um otário, tem um bigode de nazista nojento e um cabelo de fazer doer o meu estômago.”
- “Hey, vamos parando. Não vou deixar que você me ofenda. Estou aqui com todo amor pra dar. Qualé?”
- “Tenho que ir.”
- “Peraí, você tá com um fio enorme na bochecha. Deixa eu ver”, disse ele, tentando puxá-lo.
- “Não toque aqui.”, gritou ela, colocando a mão no rosto.

Quando Anita se virou, Giba notou que nascia um rabo no lugar da bunda. Ele ficou paralisado, olhando aquele fenômeno transformista (hollywoodiano) diante dos seus olhos. Antes mesmo que saísse alguma palavra de sua boca, a revelação veio à tona.

- “É isso mesmo, eu sou uma lobiwoman.”
- “Uma lobi o que?”
- “Isso, uma lobiwoman. Agora, preciso ir. Você não vai gostar de ver o efeito completo.”

Anita saiu correndo. Gilberto ficou em estado de choque. Seu rosto estava flácido e a baba descia no canto da boca. O coração estava acelerado. O amor havia se tornado ainda mais intenso.

Parte V - Nem todo fim é o fim.

Gilberto acessou a página do google e digitou a palavra “lobisomem” no campo de busca. Apareceram milhares de opções na pesquisa, incluindo sites sobre filmes, livros e jogos de RPG. O blog “infernorama” parecia a fonte mais confiável sobre o assunto. Lá ele encontrou todos os detalhes da maldição da lua cheia.
Depois de ler tudo e se inteirar do tema, ele ligou para Anita várias vezes, mas ela não atendeu. Deixou recado, mandou mensagens, e esperou por várias horas e nada. Então, resolveu ir ao prédio dela. Pediu para o porteiro interfonar, mas ninguém atendeu no apartamento.
Foi aí que ele atravessou a rua, caminhou até uma pequena praça que ficava em frente ao prédio e sentou-se em um dos bancos. Então percebeu que era noite de lua cheia, por isso Anita não estava em casa. Ela havia se transformado e tinha saído noite adentro. Gilberto preferiu não pensar no que ela estava fazendo solta por aí na forma de lobo, mas sabia que precisava esperar até o amanhecer para encontrá-la.
Ficou no banco da praça até de manhã. Por volta das 6 horas, um táxi parou em frente ao prédio e Anita desceu. Gilberto correu em sua direção e gritou seu nome.

- Você? Que porra tá fazendo aqui? – disse a menina, assustada. Ela estava toda suja e com as roupas rasgadas.
- O que houve com você?
- Você sabe o que houve. Eu lhe mostrei.
- Mas e suas roupas?
- Eu virei um lobo, idiota. Por isso minhas roupas rasgaram – gritou ela, batendo em Gilberto com sua bolsa.
- Algum problema, dona Anita? – perguntou o porteiro, da guarita do prédio.
Não. Tudo bem – respondeu ela. – Agora vá embora, Gilberto.
- Eu li sobre seu problema. Talvez eu possa te ajudar.
- Você acha que se tivesse cura, eu já não teria feito? Vá embora – pediu ela, e então, entrou no prédio.

Gilberto ficou olhando ela subir as escadas. Então ele se deu conta de que estava realmente apaixonado. E se não tivesse cura para ela, teria para ele.
Gilberto estava disposto a se transformar em lobisomem. Ficou pensando o que diria a seus pais quando eles descobrissem ou se a mordida de um lobisomem doía muito. Mas por amor, ele faria tudo.

Um comentário:

Andreane disse...
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