Os dois pararam em frente a um bar. Um lugar sujo e feio, com cadeiras e mesas velhas. Um homem gordo cochilava no balcão.
- "Vamos", disse o diabo.
Entraram e sentaram em uma mesa. O homem gordo acordou com o som das cadeiras sendo movidas e veio até eles. Com um pano molhado, enxugou a mesa e perguntou o que iam querer.
- "Cerveja", respondeu o diabo.
- "Não quero beber", gritou Luís Hernandes.
- "Mas vai. Fique aí que eu vou ao banheiro."
O gordo trouxe a cerveja e serviu dois copos. Luís bebeu, mesmo sem vontade. O diabo voltou e sentou-se ao seu lado.
- "Você cresceu mais ou é impressão minha?", perguntou Luís.
A figura vermelha, agora, tinha pouco mais de um metro de altura.
- "Sim. Não é legal?"
- "Não sei. Pra mim não tem importância."
- "Mas devia ter. Eu, por exemplo, me importo com o fato de você estar encolhendo."
- "Encolhendo?"
Assustado, Luís Hernandes levantou-se. Sua bermuda caiu até o chão e ele por pouco não tropeçou enroscado com ela em suas pernas.
- "Bonita cueca", disse o demônio, após tomar um gole de cerveja.
Luís Hernandes sentou-se de novo, constrangido. O gordo, no balcão, olhava para ele meio cismado com seu repentino strip-tease de Luís. Então, notou que sua camisa também estava folgada e seus pés balançavam dentro dos tênis All Star.
- "Quero ir pra casa, falou. Seu tom de voz era como o de um pedido. Como um garoto se sentindo desconfortável em um lugar estranho."
- "Não. Você não quer. Não tem nada lá."
Luís Hernandes abaixou a cabeça e fez um beiço de quem ia chorar. O diabo lhe deu uma tapa no rosto. Luís o encarou, constrangido e, agora, curioso.
- "Desde quando você usa gel, no cabelo?", perguntou Luís.
O diabo tinha agora um topete pintado de loiro. E estava maior, muito maior. Luís achou que estava bêbado ao extremo, mas depois percebeu. Realmente o diabo tinha crescido mais. Só que Luís havia encolhido significativamente. Ele estava agora envolto em suas roupas e sua camisa parecia mais um lençol.
- "Eu encolhi", disse ele, gaguejando. – "Você cresceu."
- "Venha", falou o diabo, lhe estendendo a mão.
Luís Hernandes subiu em sua mão e o diabo o levou até perto do seu rosto.
- "Chegou a hora de você fazer a coisa certa.", sentenciou o diabo, e em seguida arreganhou a boca.
Luís Hernandes, então, saltou para dentro da escuridão.
O diabo levantou-se, vestiu as roupas de Luís, pagou a cerveja e saiu do bar. Do outro lado da rua, havia alguns carros com os sons ligados e umas pessoas bebendo no local. Em uma das rodas de amigos, estava a menina que Luís Hernandes sempre via na parada de ônibus. Ela encarou abriu um farto sorriso quando viu o diabo e caminhou até ele.
- "Oi. Eu não te conheço?", perguntou ela.
- "Prazer em conhecê-la. Espero que adivinhe meu nome", respondeu ele, com um sorriso no rosto.
p.s: Conto baseado numa criatura grotesca que se sentou ao meu lado no ônibus.
Créditos:
Andreane Carvalho
Colaboração: Geraldo de Fraga (jornalista e escritor do livro História que nos Sangram – a venda nas melhores livrarias!).
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