sábado, 17 de outubro de 2009

O dia em que Luís Hernandes resolveu mudar - Parte II

O suco azedo invadiu-lhe o corpo, percorrendo veias, entupindo vasos, fundindo-se ao seu sangue. Neste momento, todos os órgãos pararam. O diabinho, ao lado, sorria feliz. Gargalhadas estridentes e diabólicas. Luís, então, vomitou. Botou para fora todo o podre que guardava dentro de si. Até a própria alma foi embora com o jato mau cheiroso. O pequeno diabo encostou-se ao seu rosto.

- “É, meu caro...você mudou demais. Não era pra ser assim. Nem beber você sabia, caralho.”

- “Ah, não enche. Me ajuda aqui.”, disse Luís Hernandes tentando tirar a cara do vômito.

- “Vai, levanta”, falou o diabo, puxando-o pelo braço.

- “Eu não consigo. É como se eu estivesse sem nada dentro de mim.”
- “Assim fica difícil, porra. Levanta, diabo!”
- “Hey, o diabo aqui é você. Não confunda as coisas.”

A cada segundo, Luís Hernandes ia ficando mais amolecido. Sua alma começou a largar do corpo, como se fosse uma regressão. Até o diabo teve medo. Enfim, saiu Luizinho da boca de Luís. Ele era do tamanho do diabinho, só um pouco mais magro. E, claro, a coisa vermelha estava feliz com o novo companheiro.

- “Você tá é bonitão, heim?”, comentou o diabo.
- “Que porra é essa que eu sou? Sou o anjo, é isso?”

O diabo deu uma risada incontrolável.

- “Anjo é a última coisa que você poderia ser.”

- “Num vem não que tu és muito pior do que eu.”
- “Eu sei disso, por isso que eu sou diabo!”, completou, elevando os braços para assustar Luís.

- “Sai de perto de mim, porra.”
- “Veja o lado bom. Agora, podemos ser brothers, cara!”
- “Que mané brother, tá louco? Estou assim, mas ainda não pirei completamente.”
- “Embora, vamos arrumar o que fazer!”, gritou o diabo, que já estava quase no fim da rua.

Luizinho Hernandes andou a passos lentos, querendo resistir àquela loucura. Perguntava-se a todo instante o que estava fazendo ali, com aquele tamanho, aquela transparência e com aquela criatura de rabo vermelho. - “E se for um sonho, este é o momento em que minha alma vaga pela madrugada?”, indagou-se.

Já eram duas horas da madrugada. A rua estava deserta. Luizinho Hernandes e seu diabo amigo andavam sem rumo.

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