domingo, 20 de setembro de 2009

Quase real

Já eram onze horas daquela noite que parecia infindável. A conversa havia se esgotado. De um lado, Mônica se recolhia para o quarto, silenciosamente. Stênio, seu marido há minutos atrás, continuava a resmungar a separação. Ele não entendia o porquê, mesmo depois de horas a fio de conversa, brigas, insultos e tentativas de reconciliação. Daqui para frente, não haveria mais casal. Os vinte anos estavam indo embora ali mesmo, sem, aparentemente, o menor sentido.

Mesmo com todo o sofrimento, Mônica parecia estar firme. Enxugou as últimas lágrimas, colocou o pijama e foi dormir. Ao contrário de Stênio, que estava disposto a esperar o amanhecer, com um retrospecto filme iniciando em sua mente. Eram muitos anos passados juntos. A priori, a rotina parecia ter engolido o casal. Ele era fotógrafo, trabalhava para uma assessoria de comunicação. Ela era cantora e passava a maior parte do tempo em casa, ensaiando repertórios para as apresentações noturnas. O dia e a noite eram insuficientemou para Mônica e Stênio.

Da união, geraram um filho, Diogo, de apenas dez anos. A casa em que moravam foi construída com esforço e dedicação. O lugar era um sítio, um ambiente calmo, onde só se ouviam as onomatopéias dos animais.

Na sala, Stênio tentava adormecer no sofá. Toda vez que fechava os olhos, parecia se lembrar de todos os dias que passara com sua (ex) mulher naquela casa. Os abria suavemente para ter certeza de que tudo aquilo não existira mais. Na visão, a escuridão arrepiava os pêlos. Já sofria de uma saudade provocada pelo gosto da ausência que mal começou. O silêncio parecia gritante diante de tanto sofrimento que sentia. Lágrimas passaram a escorrer em seu rosto. Fechava os olhos firmemente para adiantá-las. Acabou pegando no sono.

Noite fria..

Mônica levantou-se cedo da cama. A cara era de quem parecia não ter dormido. A mente não descansara na última madrugada. Foi ao banheiro, passou uma leve água no rosto, antes de tomar banho. Ficou um bom tempo olhando para o espelho. Tirou a roupa lentamente e ligou o chuveiro. Alguns minutos de pensamentos vagos, que iam embora com a água que caía sobre seu corpo.

O silêncio instaurado em toda a casa era a prova de que não havia mais nada a se dizer ou fazer. E Mônica sabia.

Stênio tinha certeza, embora não quisesse aceitar. Até que resolveu desaparecer. Foi tão rápido como um voo de um pássaro. Egoísta como o amor que sentia.

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