domingo, 6 de setembro de 2009

Do crítico ao caricato


Fui conhecer o Rio de Janeiro, a cidade maravilhosa. E como uma boa turista, assisti a uma peça de teatro. Escolhi Hairspray, em cartaz no teatro Oi Casa Grande, com adaptação de Minguel Falabella. As atuações até são corretas, porém bastante exageradas...

Naturalmente, o musical Hairspray chama a atenção do público com um elenco recheado de globais. Afinal, quem não gostaria de ver o galã Edson Celulari interpretar uma mulher ou Danielle Winnits com um vestido super decotado. A trama se passa na cidade de Baltimore, nos anos 1960, em meio aos ritmos dançantes que balançavam os corpos juvenis em programas de televisão e ao questionamento das segregações sociais.

O primeiro ato abre com Simone Gutierrez, a atriz revelação e protagonista, interpretando a simpática e gordinha Tracy Turnblad, uma adolescente que sonha em virar estrela do programa “Corny Collins Show”. Ela carrega uma grande peruca na cabeça, moldada com o laquê Pegada Firme, o coadjuvante de luxo do espetáculo. Toda a arte da embalagem e da publicidade do spray, muito bonita por sinal, foi criada exclusivamente para a peça. Em três meses de temporada carioca, a produção informa que já foram consumidos mais de dois mil tubos do laquê. Pobre camada de ozônio.

No enredo, apesar de estar fora dos padrões estéticos impostos pela sociedade, a jovem Tracy parte em busca do estrelato. Simone consegue dar muita vida à personagem, numa mistura de interpretação impecável e carisma. Mesmo acima do peso e com um metro e meio de altura, como pede o roteiro original, a atriz executa os passos de dança com técnica, deixando o público deslumbrado e de olhos fixos em cada gesto.

Entre gritinhos e aplausos da platéia, quem entra logo após é Edson Celulari, no papel de Edna Turnblad, a mãe de Tracy. Com um vestido azul estampado com flores, bobes na cabeça e um par de pantufas de pelúcia nos pés, Celulari deixa a desejar logo de início, sem muita dedicação. Talvez, por se tratar de um espetáculo de quase três horas, montado com coreografias quase que acrobáticas, o ator deve tenha optado por “descansar” no primeiro ato. No segundo ele mantém o tom e o humor exigidos, mas, mesmo assim, sem muita semelhança com John Travolta, ator que arrasa na versão cinematográfica.

Já Arlete Salles, como a mãe da antagonista Amber, a jovem loira (e fútil), não se diferencia muito dos papéis que fez em “Toma lá da cá” ou no extinto “Sai de Baixo”. As piadas inspiradas no estilo do humor barraqueiro, escrachado e caricato dos dois programas, também dirigidos por Falabella, fazem o público confundi-la com as personagens que já atuou. Danielle Winnits também não fica para trás, forçando a voz gasguita para dar uma ingenuidade adolescente.

Os 20 cenários são de autoria de Renato Scripilitti. Simples, mas, com cores vibrantes e de fácil mobilidade, cumprem o seu objetivo de identificar locais e épocas. O figurino, assinado por Marcelo Pies, também evoca o contexto dos anos 1960 e é fiel ao Hairspray que estreou em 2002 na Broadway.

Com qualidades técnicas invejáveis e extremamente bem realizadas, a montagem brasileira de Hairspray se apresenta como uma obra competente e comparável à original, sobretudo no que diz respeito à tradução das letras que fazem parte da trilha sonora, muito bem dirigida por Felipe Senna. No entanto, a interpretação exagerada de alguns atores, necessária em alguns contextos, mas forçada em boa parte dos casos, como Jonatas Faro, o bonitão Link, é carregada e prejudica a adaptação.

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